Crise hidrológica e Indústria comprará energia mais cara em 2018
O cenário de falta de chuvas vai complicar a contratação de energia pela Indústria em 2018, em meio à expectativa de retomada do setor. Segundo a consultoria Thymos, o preço do insumo (megawatt-hora) tende a atingir uma valorização de até 100% em 12 meses no mercado livre de energia.
Segundo o presidente da Thymos, João Carlos de Mello, o preço em reais do megawatt-hora começou o ano entre R$ 140 e R$ 150, saltou para R$ 170 em junho e agora soma R$ 250. “A tendência, diante da falta de chuvas, é de que esse valor aumente, chegando próximo aos R$ 300”, afirma.
Importações do Uruguai e da Argentina ajudam, mas não resolvem a necessidade de contratação do insumo; aquisição dos países vizinhos assegura economia de apenas 5% no preço final no País
Apesar da situação crítica na oferta em razão da seca, não há risco de apagão, avaliam especialistas
O preço no mercado livre é o que a indústria e as empresas contratam com antecedência para atender aos picos de demanda futura. A estimativa de Mello é que cerca de 20% dos clientes empresariais ainda não tenham contratado energia para o próximo ano.
Em meio à crise econômica, entre os anos de 2015 e 2016, as contratações futuras perderam ritmo, porém, diante da expectativa de uma expansão em ritmo superior da atividade industrial em 2018 essa alta seja repassada aos custos dos empresários.
Seca
Por trás dessa alta está uma das piores secas a atingir algumas das maiores represas dos País, como a de Sobradinho (Bahia) e a da Serra da Mesa (Goiás), que estão, respectivamente, com 5% e 8% de sua capacidade. No caso de Sobradinho, a Agência Nacional de Águas (ANA) não descarta que o reservatório atinja o chamado “volume morto”, que é a reserva técnica de águas mais profundas.
“O nível dos reservatórios do sistema de reservatórios está numa situação tão crítica quanto de 2001 [quando teve apagão], porém a situação é diferente, pois temos as térmicas e o sistema está mais interligado”, destacou Mello, acrescentando que estes baixos níveis devem se perpetuar em 2018.
O presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales, comenta que a situação seria mais crítica caso o uso da energia eólica não estivesse consolidado na região Nordeste, onde a seca castiga a região. Da demanda de 8.410 MW do último domingo, 5.599 MW foram atendidos pela fonte eólica, equivalente a 66,5% do total, enquanto a hidráulica respondeu por 1.502 MW, cerca de 17,5% do total.
“A energia eólica tem sido muito relevante para o Nordeste, garantindo o abastecimento de energia”, afirma.
Segundo ele, apesar dos maiores custos o risco de “apagão” é descartado neste momento, exatamente pela interligação dos sistemas entre as regiões brasileiras, onde a menor geração hidrelétrica de uma área pode ser compensada pela de outra, diferentemente de 2001, quando a indústria parou por falta de energia elétrica.
Importação
Uma das alternativas encontradas pelo governo para evitar o acionamento das termelétricas e, assim causar uma elevação maior no preço da energia, é por meio da importação de energia elétrica da Argentina e do Uruguai. O Ministério de Minas e Energia recebeu autorização, “de forma excepcional e temporária”, até 31 de dezembro do próximo ano para o procedimento, que ocorre semanalmente, em leilões, semanais, de compra dos países vizinhos. “É uma medida importante, porém é complementar”, pondera Sales.
Para o presidente da Thymos, a compra de energia dos países vizinhos aliviaria apenas em 5% o possível aumento dos custos pelo uso de mais térmicas no Brasil. “Nossa conexão com o Uruguai é pequena, e com a Argentina um pouco maior, mas tem que haver muita negociação”, diz Mello. “Temos ainda a possibilidade de importar mais gás da Bolívia. No entanto, não há nenhuma medida salvadora da pátria”, complementa.
Enquanto isso, a expectativa é de que a seca leve ao acionamento da chamada “Bandeira Vermelha” a partir de outubro. A cor da bandeira varia conforme haja necessidade de aumento do uso de térmicas. Atualmente, vigora a amarela.
Essa alteração de bandeira elevaria o preço, para todos os consumidores, em cerca de 2%, projeta Sales.
Créditos: Rodrigo Petry – DCI (Diário Comércio, Indústria e Serviços)